sexta-feira, 24 de julho de 2009

CARTA DE SOLIDARIEDADE AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Prezado Senhor Presidente,




Hoje eu li uma declaração do senhor – eu leio tudo que o senhor fala porque o senhor é o meu guru. Afinal, o senhor e eu falamos muito parecido. Nós dois estudamos português com o grande filólogo Ibrahim Sued – eu gostava do Turco, era gente boa, parecido com nós, ele também não era muito chegado a usar o tal do esse no final das frases – afinal eu acho uma grande estupidez esse (agora é pronome) negócio do objeto concordar com o sujeito. São duas coisas completamente diferentes.
Objeto é coisa, tipo mala, cueca, dólar, dinheiro, mesada, sei lá, tem muita coisa que é objeto; já sujeito é gente, como o seu filho, gente mais do que legal o seu filhinho, bom de negócio, tem futuro o menino, valeu mesmo apostarem nele; gente é o José Genoíno, fantástico orador, como é bem articulado o seu companheiro, mal comparando, até faz lembrar o falecido Carlos Lacerda. Cara mais do que maneiro o Genoíno, um pouco ingênuo, fica assinando uns papéis sem ler antes, mas isso acontece com muita gente, o Senhor não precisa se preocupar; gente é o carequinha Marcos Valério, tremendo criador de bois, vacas, cavalos e outro bichos.

Por falar em bicho, e o Waldomiro? Por onde anda? Ele era assessor do seu amigo José Dirceu, esse também é gente, logo sujeito, sujeito de duas caras, é verdade, mas o Senhor sabe como é fazer plástica, parece que muda muito o sujeito. Eu nunca fiz porque sou duro, mas acho que estou precisando dar uma recauchutada. Mas se um dia fizer, quero fazer com o mesmo médico que operou o Zé Dirceu, médico bom tal aí, mudou a cara e o caráter do sujeito de uma só vez. Gostei muito!

E tem muita mais gente, como o Luiz Gushiken, empresário desastrado, foi só deixar a empresa com os cunhados, assumir o ministério e as empresas começaram a dar um lucro do tamanho de um bonde, mas o Senhor também não precisa se preocupar porque como dizia o rei das favelas, o falecido engenheiro – sem diploma – Leonel Brizola, cunhado não é parente...

E tem mais gente, como o tesoureiro Delúbio Soares, dizem que na outra encarnação ele trabalhou com um tal do Alí Babá. O Alí parece que dispensou os outros quarenta! Pois é, voltando ao que o Senhor falou que o Brasil não merece o que estão fazendo com ele, eu confesso que apesar de ser um profundo admirador do seu raciocínio sempre claro, dessa vez não entendi nada. Quem está fazendo uma sujeira que não tem mais nome - nome tem, só que não dá para escrever em um jornal de respeito, é exatamente o seu partido e toda essa gente que eu fui citando nessas mais do que mal traçadas linhas.

E quando eu tentava com a minha pouca inteligência entender o que o Senhor queria dizer, vi que ao lado havia uma declaração de um senador do PSDB, um certo Arthur Virgílio, dizendo que o Senhor era, na melhor das hipóteses, idiota, e, na pior, corrupto.

Senhor Presidente, confesso que fiquei muito chateado com esse senhor. Isso é falta de respeito com uma pessoa como o Senhor, um cidadão digno, que lutou toda a vida contra preconceitos, uma pessoa correta, um homem preocupado com o povo brasileiro, em acabar com fome, com a miséria, com o desemprego dos petistas, com as desigualdades, preocupado, no seu portentoso avião, em mostrar o mundo inteiro para o Senhor e sua Senhora – dizem que ela mandou fazer cem vestidos para todos os presidentes dos países que o Senhor está sempre visitando verem que a esposa do nosso amado Presidente sabe se vestir, um homem que para facilitar a vida política do Brasil criou trinta e cinco secretarias e ministérios, cobrindo, com tão desprendido gesto, todos os setores nacionais, um homem que vive preocupado com o boné de plantão, que tem de aturar dos arruaceiros do MST, pensar no vinho francês que vai beber no jantar – êta saudade boa dos tempos da caninha da roça, um homem que nunca se afastou das suas raízes populares, tanto que adora uma quadrilha, um homem que nunca perdeu a cabeça, perdeu uma parte do dedinho e conseguiu uma aposentadoria por incapacidade para trabalhar, o que sempre me pareceu muito justo, porque uma falange é fundamental para o exercício de qualquer profissão, até de Presidente da República – tem uns loucos, como o tal do Aleijadinho que amarrava um martelo e um cinzel em suas mãos destruídas e criava obras eternas, mas só louco é que faz uma coisa dessas, e o Senhor, de louco não tem nada, nem de idiota, como falou o senador despeitado. Ele tem é inveja do Senhor, do homem brilhante, gente de fé, sujeito, nunca objeto, que com sua inteligência conseguiu que cinqüenta e três milhões de idiotas votassem no Senhor.
Escrito por Paulo de Faria Pinho.

(*) Paulo de Faria Pinho é advogado, com pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas, poeta e escritor, autor de "Alcoolicamente", editora Relume Dumará, obra vencedora da bolsa para escritores brasileiros do Ministério da Cultura, categoria poesia, "Memórias sem maquiagem", editora Cultura, sobre a vida do produtor e rei da noite, Carlos Machado, "Calçadas do Leblon", editora 7 Letras, poesia, "Boêmios & Bebidas", editora Casa da Palavra, livro sobre a boemia do Rio de Janeiro e "O Azarão", editora Garamond, folhetim erótico. Tem trabalhos sobre o cantor, poeta e compositor Jacques Brel publicado em jornais do Rio, Bruxelas e na revista da Fondation Internationale Jacques Brel.

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